segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Quem sabe um dia…..



Tens na voz o sabor ao vinho das encostas que embalam o rio, o verde do teu olhar no meu é como a folha da parreira que dá cor á tela que representamos. Nesse momento em que fomos um, tive a certeza da criança que um dia … da mulher que me fazes e sempre o rio, tão perto dos dois, tão perto de mim a deixar a incerteza da profundidade dessas águas, na incerteza do momento em que em ti me afundo – se ao menos eu soubesse (se ao menos soubesses). Os dias em que as bocas e os corpos se tocaram tão iguais a nós, tão parecidos com eles, os que tens em ti e de ti são parte, como um braço daquele rio a que sabes… daquele a que eu transbordo … entras em mim como a força dos ventos que transportam a chuva, o teu amor em mim, em nós…. as mãos que tocam o rosto, deslizam como o cabelo por entre as lágrimas que o corpo nos pede, levas-me a fome de ti e o calor, o calor de nós de vazante na margem….
Esse rio selvagem que tocas tão fundo, sou eu, assim tão tua. Em mim fica a verdade, a verdade do que fomos, de nós que seguimos o curso da água, que todos os dias acorda no sereno da casa que és, a janela que abriste, a janela que não fecho e o rio sempre tão junto a nós. Não sabia que podias ser casa, percurso desnorteado sem destino, acabas no para sempre do caminho que não deixas de ti mas que insistes em percorrer. Corre “ água louca em cavalgada, não vás devagar na loucura de chegar” , iluminas-me as madrugadas, navegas-me no escuro e sabes encontrar-me…..